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Todas as curvas

de uma mulher

Repórteres Adler Sousa, Bibiana Belisário, Laura Brasil

Therapy Sessions

Mulher, conhece-te a ti mesma

A saúde da mulher é um tema rodeado de tabus pela sociedade e a mídia. O assunto se esgota em abordagens repetitivas e superficiais, muitas vezes ficando restrito a períodos específicos de campanhas, como o Outubro Rosa e o incentivo à prevenção de câncer do colo uterino.

 

Essa reportagem busca trilhar outros caminhos sobre a temática, perpassando pela saúde reprodutiva, sexual, mental e física, abrindo espaço para desconstrução de conceitos e opiniões.

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Na sociedade patriarcal, o gênero feminino é visto como inferir, mas essa discussão está enraizada no senso comum.

Mulheres precisam se sentir realizadas como mãe? Entenda melhor e conheça os pontos e contrapontos do tema.

A violência psicológica é a forma mais subjetiva de agressão contra a mulher. Ela pode vir implícita em relações amorosas e até parentais.

A sexualidade feminina é sempre atribuída a questões de saúde. Onde fica o bem-estar da mulher nessa discussão? 

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NormalidadeTranstorno

O sexo frágil?

Na biologia, os seres humanos são classificados em dois gêneros: masculino ou feminino. Isso porque nas células humanas existe um par de cromossomos chamados “sexuais” que, nas mulheres, são representados por dois cromossomos X e, nos homens, por um X e um Y.

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Mas essa diferença não se limita à fisiologia humana. Historicamente, foram atrelados papéis de gênero aos seres conforme seu sexo. Ou seja, para as mulheres são destinadas atividades domésticas, de passividade, dentre outras que exigem “delicadeza”; enquanto que para os homens são destinados papéis sociais de

liderança ou que exijam força física. 

 

Paralelo a isso existe, também, o senso comum de que a mulher é o “sexo frágil”, que possui menos resistência - física e emocional - que homens. Mas será mesmo?  

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Provar habilidades

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A especialista em Fisioterapia Pélvica, Carolina Macedo, afirma que o funcionamento do corpo da mulher é influenciado pela questão hormonal. “O estrogêneo tem uma carga genética que determinará as ações hormonais, bem como todo o funcionamento do corpo da mulher, visto que ela passa por grandes cargas físicas e emocionais, as quais demandam e custam desgastes ao seu corpo e sua mente”.

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Apesar da influência hormonal, a fisioterapeuta discorda da expressão usada para deslegitimar o lugar do sexo feminino. “‘Sexo frágil’ é uma expressão que não cabe à mulher. São muitas demandas, físicas e emocionais, que as tornam fortes. Mesmo assim, todos os dias precisamos provar habilidades para sermos aceitas e respeitadas”, destaca.

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Sobrevivência

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Um estudo da Universidade de Duke (EUA) constatou

que tanto o estrogêneo quanto a testosterona - hormô-

nios abundantes, respectivamente, em corpos femininos

e masculinos - realmente tem bastante influência nas

condições vitais dos seres humanos, mas a perspectiva é

diferente da construída pelo senso comum. 

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A pesquisa analisou as taxas de sobrevivência de seres dos sexos masculino e feminino em sete populações que estavam sob condições extremas de fome, epidemias e escravidão. A conclusão, então, foi de que em períodos de alta mortalidade da população, as mulheres sobreviveram até quatro anos a mais que os homens. 

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Ainda segundo o estudo, a aparente vantagem de um sexo a outro estaria em fatores de proteção imunológica: a incidência de doenças infecciosas bacterianas, virais, parasitárias e fúngicas é consideravelmente maior em homens do que em mulheres. Isso sugere que o hormônio estrogênio aumenta a defesa imunológica das mulheres, agindo como antioxidante. Já os homens, com o fator testosterona, estão mais expostos a condições fatais. 

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No esporte

 

As primeiras Escolas de Educação Física do mundo, por sua vez, determinavam a exclusão das mulheres com o argumento de que a fragilidade e a vulnerabilidade fisiológica influenciariam na desenvoltura física. Dessa forma, o esporte é mais um lugar onde as mulheres ocupam com dificuldade, tentando provar que o gênero nem sempre mede capacidade física.

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E elas provam! Ao analisarmos a História das mulheres no esporte, constata-se que há exemplos de mulheres que alcançaram feitos incríveis usando sua força física.

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  • Minerva, a primeira mulher na luta livre profissional

Em 1895, Josephine Schauer Blatt, conhecida como Minerva, entrou para o Guinness Book ao levantar, do chão, uma plataforma de madeira com 23 homens em cima, totalizando um peso de 1.650 quilos.

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Minerva foi a primeira mulher a participar de um campeonato profissional de luta livre, ou a chamada “wrestling”, que mistura luta com teatro.

  • Sandwina, a “rainha do peso”

Katharina “Sandwina” Brumbach se apresentava no circo da sua família com espetáculos de levantamento de peso. Seu pai, Philippe, desafiava homens da plateia a superar a força de sua filha, mas nunca alguém ganhou.

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Ela ficou conhecida ao derrotar o homem Eugene Sandow em uma competição de levantamento de peso, no século XX, em Nova York. Sandwina levantou um peso de 300 quilos acima de sua cabeça, enquanto que Sandow levantou, apenas, até o peito. Após o feito, ela recebeu o título de Iron Queen (rainha do peso).

A maldição de Eva

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Como conciliar felicidade com uma existência marcada pelo medo constante? Medo de ser agredida, abusada, violada e humilhada. Como lidar com a impossibilidade de confiar e não mergulhar em um mar de paranoia? Pânico? Stress pós-traumático? Como não deprimir quando vemos todo dia mulheres sendo estupradas, perseguidas, mortas, traficadas e tratadas como um objeto?

 

A exposição à violências é uma característica comum de mulheres que vivem no Brasil e está significativamente associada a problemas de saúde mental, em sua maioria, decorrentes do reforço à desigualdade de gênero. A urgência de atualização por parte das ciências psicológicas no que diz respeito à saúde mental feminina se justifica a partir do momento em que vivemos em uma sociedade que prioriza as necessidades masculinas e a naturalização dessa condição acaba fazendo com que acreditemos em uma dita "maldição de Eva", onde, fatalmente, o sofrimento e a subserviência se tornam um traço inato às fêmeas.

 

Quando Deus expulsou Eva do Paraíso, lançou-lhe uma maldição: “parirás em dor e ansiarás pelo teu homem; e ele te dominará” (Gênesis, 3:16). Enquanto os anestésicos livraram a mulher da primeira parte da maldição, a segunda parte imprimiu uma marca indelével na sua alma: uma disposição psíquica favorecedora ao domínio patriarcal.

 

Você sabia que as mulheres são mais predispostas a ter depressão e a desenvolver transtornos de ansiedade? Enquanto 20% delas apresentam algum episódio depressivo ao longo da vida, apenas 12% dos homens sofrem o mesmo. Para a terapeuta holística Maria Gomide,  a ansiedade é fruto do aceleramento mental, quadro que constantemente as mulheres são expostas pela falsa teoria de que somos capazes de pensar, fazer e cuidar de múltiplas coisas ao mesmo tempo.

 

 

Em dados

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Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) uma em cada quatro pessoas desenvolverá algum transtorno mental durante a vida. Caracterizados por sintomas depressivos, estado de ansiedade e um conjunto de queixas somáticas inespecíficas, o transtorno mental comum (TMC) é mais elevado nas mulheres do que nos homens. 

 

Os transtornos mentais são a principal fonte de anos de vida saudáveis perdidos (DALY) para as mulheres entre 15 e 24 anos. Prevê-se que, até 2020, a depressão passe a ser a primeira causa de DALY em mulheres em idade reprodutiva de países em desenvolvimento, na frente dos problemas de saúde diretamente relacionados à gestação, parto e puerpério. 

 

Ansiedade, depressão, transtornos alimentares, dissociações com transes e perdas de consciência. Todos esses quadros, em grande parcela, são resultantes da construção social que nos impõe a pressão de não sentir-se boa o suficiente por si mesma, pela ética do cuidado e a maternidade compulsória.

 

 

O que nos é dito 

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Tudo parte da mente. De acordo com Gomide, a chave da ansiedade é a distância entre a mente e o corpo da pessoa. A força de uma palavra impacta em todos os lugares de uma mulher, seja ele físico, espiritual ou psicológico. Isso interfere diretamente no trabalho, quando temos que ser exemplo para nos mantermos em um lugar de respeito; em casa, que precisamos saber cozinhar, arrumar, se preparar para ter filhos e construir uma família; e na vida social, que nos expõe ao medo de não sermos suficientes. 

 

Quantas vezes já lhe foi mostrado, independe da forma, que mulher boa é a mulher transformada? Depilada, emagrecida, maquiada, montada. Toda menina cresce sabendo que não será aceita como ela é, que terá que passar a vida buscando atingir um ideal, um padrão inalcançável. A insegurança aqui aparece como mola-mestra de todos os males, abrindo a porta para disforias e transtornos alimentares.

 

A missão imposta à mulher é definida pela capacidade de manter o bem estar alheio, nunca o próprio. Ela que deveria estar cuidando, estar zelando e não importa o que aconteça, a responsabilidade é dela, da casa, filhos, pais, companheiro, trabalho, estudos, aparência e até da performance sexual. Como dar conta de tanta coisa sem mergulhar em um mar de ansiedade? Ela adoece, tem stress, exaustão.

 

A transformação dessas condições só vai ser feita quando as sociedades forem capazes de pensar acerca de si mesma a partir das próprias experiências e daquilo que observam também fazer parte da realidade de tantas outras. Enquanto isso, seguimos com tratamentos psicológicos, psiquiátricos e também a medicina holística, campo este que vem ganhando destaque entre as mulheres.  

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Existe instinto materno?

O instinto materno parece ser um presente de qualquer entidade superior que tenha nos criado. Isso porque, sem dúvidas, a figura materna é associada imediatamente ao cuidado e proteção inatos. Segundo esse pensamento, a mãe, instintivamente, entende todas as necessidades de seu filho, mesmo ainda na primeira infância. 

 

A mulher doa completamente seu tempo e esforço para garantir que sua prole tenha acesso aos arranjos sociais e biológicos necessários para seu sucesso em nosso ecossistema complexo. Tal dedicação vem sem expectativa de retorno. Quantas vezes não escutamos que “incondicional só amor de mãe”?

 

Essa imagem de “mãe dedicada” vem sendo reforçada por diversos mitos, em diversas culturas, por milênios. Da figura de Maria na Bíblia a muitos outros exemplos, a concepção de que toda mulher nasceu para ser mãe foi naturalizada no discurso social com pouca chance para refutação.

 

Quando vemos na televisão a notícia que alguma mãe jogou seu bebê recém-nascido em uma caçamba de lixo ou então que bateu na sua filha até a morte, logo concluímos que esta mulher sofre de algum distúrbio que embaralha seu instinto materno. Chegamos à conclusão que tal mulher “não é uma mãe de verdade”.

 

Biologicamente falando, a fêmea humana é a única que parece criar um laço especial com sua prole que perdura por toda vida. Por toda a natureza, fêmeas de outras espécies criam seus filhotes apenas até que estes estejam prontos para sobrevirem por conta própria. Em alguns casos, como nas fêmeas de crocodilos, esse processo nem chega a ocorrer. Estas apenas depositam seus ovos e vão embora, sem se preocuparem com o fato que seus filhotes podem estar indefesos. 

 

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Todas as fêmeas mamíferas têm respostas maternas, ou ‘instintos’, mas isso não significa, como muitas vezes se supõe, que toda mãe que dá à luz está automaticamente [pronta] para nutrir sua prole. Em vez disso, os hormônios gestacionais estimulam as mães a responder aos estímulos de seu bebê e, após o nascimento, passo a passo, ela está respondendo às sugestões biológicas.

Para a autora estadunidense Sarah Blaffer Hrdy, antropóloga e professora emérita na Universidade da Califórnia, que dedica seus estudos e escritos à ciência da maternidade humana, o que é conhecido como instinto materno não passa de uma fria relação entre custo e benefício.

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Segundo a antropóloga, a fêmea humana possui uma predisposição biológica para o investimento no filho com a finalidade de assegurar que seu gene possa ser perpetuado.

Hrdy

Assim, Hrdy conclui que as mulheres não amam instintivamente seus bebês e, como fêmeas de outras espécies, não se afeiçoam automaticamente à sua prole. O instinto materno, dessa forma, não existe; as mulheres cuidam de seus bebês (custo) visando a continuação da espécie (benefício).

Hrdy

A maternidade no Brasil em dados

Segundo as duas últimas edições do CENSO - estudo estatístico referente à população brasileira que possibilita o recolhimento de várias informações importantes -, realizado a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cada vez menos mulheres desejam ser mães. Isso reflete diretamente na quantidade de casais que não possuem filhos.

7%

No CENSO de 2000, apenas 7% dos casais brasileiros não possuíam filhos.

23,8%

No CENSO de 2010, o número de casais sem filhos chega a 23,80%.

Taxa de fecundidade

FONTE: ONU

10%

Segundo o CENSO realizado no ano de 2000, 10% das mulheres brasileiras não desejam ter filhos.

14%

10 anos depois, 14% das brasileiras responderam para o IBGE que não pensam em ter filhos.

FONTE: IBGE

FONTE: IBGE

Ainda de acordo com o IBGE, as estimativas são de que em 2060 a taxa de fecundidade brasileira diminua ainda mais, chegando a 1,66%. Isso terá impacto direto na população, que será formada principalmente por pessoas com mais de 65 anos.

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Construção social

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“O instinto materno é fruto de uma construção social”, afirma Girleide Brasil, 43 anos, assistente social do Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS) do município de Acopiara, localizado no interior do Ceará. De acordo com a profissional, o vínculo entre mãe e filho vem sendo reforçado socialmente devido aos altos índices de falecimentos infantis. “A comunidade médica, numa perspectiva higienista, iniciou em séculos passados o trabalho de delegar às mães a responsabilidade pelo bem estar dos seus filhos, pois se acreditava que somente à mulher caberia a função de educar e cuidar dos filhos. Assim, percebe-se um trabalho de conscientização e internalização do mito do amor materno”.

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A assistente social ainda aponta quais são os motivos pela diminuição da taxa de fecundidade brasileira. “A expansão da urbanização, o planejamento familiar, o uso de métodos contraceptivos e a participação da mulher no mercado de trabalho são alguns dos motivos pelos quais as mulheres vêm tendo cada vez menos filhos no Brasil”, afirma.

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A mulher que quero ser

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Fazendo parte do grupo de mulheres que não quer ser mãe, a jornalista Vamille Furtado, de 26 anos, diz que nunca pensou em ter filhos. “Imaginando a mulher que sempre quis ser, nunca tive vontade ou necessidade de filhos na minha vida”, diz ela. “Tenho algumas metas e objetivos bem estabelecidos e acho que vou construí-los e aproveitá-los não sendo mãe, mesmo sabendo que várias mulheres alcançam as mesmas coisas sendo mães. É simplesmente um desejo que não tenho e acredito que não terei”.

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A jornalista comenta que, mesmo após ter deixado claro seu desejo de não ter a experiência materna, ainda sente certa pressão por parte da sua família. “Sinto que meus pais e avós me imaginam tendo filhos um dia e tem esse desejo. Inicialmente, isso me fazia muito mal, mas, com o passar do tempo, esse sentimento diminuiu. Assim como em qualquer outra decisão pessoal eu devo me importar e levar em consideração as minhas vontades, desejos e escolhas”, afirma.

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Recentemente, Vamille passou por um processo cirúrgico para retirada de um de seus ovários e percebeu que a pressão vinha até mesmo de profissionais da área da saúde. “Eu fiz uma cirurgia para remover um ovário devido a um tumor e todos os profissionais de saúde que me atenderam ficaram tristes ou preocupados com a situação, mesmo eu estando tranquila em relação a isso”, lembra.

 

Para ela, isso mostra que a coerção para gerar vidas vem não somente de pessoas próximas, mas da sociedade como um todo. “A pressão social é mais sutil; ela surge, por exemplo, em uma conversa com uma pessoa que opina ou questiona minha vontade. Quando isso acontece, eu logo esclareço e não me sinto incomodada caso alguém não entenda ou aceite”. 

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Não contém tabus

A ideia de que a mulher é uma extensão do homem é embasada em várias histórias contadas por diferentes povos; seja com Eva, na Bíblia, ou a deusa Afrodite, na Mitologia grega. Por conta disso, o corpo e a sexualidade feminina ficaram – por muito tempo – restritos à reprodução, como forma de controle social feito pelo Estado ou nas entrelinhas da sociedade conservadora.

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Apesar de todas as evoluções que existiram até aqui – como a da década de 1960, com o movimento feminista – ainda sobram resquícios de mitos que tentam reprimir a sexualidade da mulher e, com isso, nos fazer ter medo de (literalmente) relaxar e gozar. Assim, fica difícil da mulher chegar ao orgasmo e manter seu bem-estar sexual.

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Saúde em primeiro lugar

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Em entrevista à Revista AzMina, a doutoranda em antropologia com ênfase em corpo e saúde, Lara Costa Duarte, explica que a partir do século XX, com o empoderamento feminino, o tema sexo e mulher ganhou também outras abordagens, como a da "medicalização da sexualidade".

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Essa medicalização, por sua vez, leva muitas meninas ao consultório ginecológico ainda muito jovens, como na ocasião da sua primeira menarca ou quando perdem a virgindade. Enquanto isso, os meninos são orientados (nem sempre!) em casa mesmo, por seus pais, em conversas não tão constrangedoras quanto à ida a um ginecologista com pouca idade, aos 12 ou 13 anos, por exemplo. 

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"Isso ocorre porque, na maioria das vezes, a sexualidade feminina é tratada apenas como uma questão de saúde", afirma a jornalista Andreia Santos, de 23 anos. "A nossa sexualidade é um tabu social, pouco se fala sobre isso na escola e em outros espaços e isso acaba interferindo fortemente no nosso prazer sexual. Por isso, tratar o sexo como pauta política e social para além da saúde é necessário e urgente", completa. 

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Ave clitóris

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A consultora sexual Bethania Frutuoso diz que sempre questionou o tabu entorno da sua sexualidade. “Eu tenho 34 anos e sou de uma geração que sempre se falava em ‘casar virgem’. Eu ouvia isso e sempre questionava ‘mas por quê, gente?’”, por conta disso, ela conta que ficou conhecida como “a piranha do rolê”.

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Para ela, as mulheres são responsáveis por conhecer seu corpo, para que, só depois, possam se relacionar com outras pessoas e mostrar a elas "como é que se faz". "Olha, era pra gente [mulheres] gozar pra caralh*, porque a única função do clitóris é fazer a gente gozar. E isso, só a mulher tem", destaca. 

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Bethania diz que a saída que encontrou para se tornar a mulher que é hoje foi deter o domínio do seu corpo, das suas sensações, da sua sexulidade. "Nós, mulheres, temos que botar o espelhinho lá embaixo pra ver. Temos também que provar nosso gosto! Não podemos ter nojo do nosso corpo! Se nós temos, vai ser normal outras pessoas terem também, né?".

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Além de consultora sexual, Bethania é estilista e produz adornos corporais. Como forma de unir seu trabalho de vendas e suas opiniões sobre a emancipação da sexualidade feminina, ela começou a publicar conteúdos sobre o tema em suas redes sociais. Com muita criatividade e totalmente sem tabus, seu Instagram é repleto de fotos, vídeos e textos sobre a temática. 

Playlist especial para você entrar no clima da leitura. Aperte o play e aproveite!

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